21.11.16

{Gourmet Culinary Extravaganza} Quando o jantar é na garagem

Gourmet Culinary Extravaganza, Underground Party, Conrad Algarve

Extravagância é juntar uma mão cheia de chefs estrelados e convidá-los a servir o jantar em ambiente festivo no estacionamento do Conrad Algarve. É estar preparado para a irreverência de um grupo singular onde o anfitrião Heinz Beck tem sempre um novo desafio na manga. É desafiar ainda mais alguns chefs de renome internacional a mostrar os seus pratos assinatura antes do jantar. É reunir 10 dos melhores escanções portugueses e apreciar as suas escolhas audazes para pratos complexos. Dos comensais, apenas a vontade de fazer parte de uma experiência épica. Música e luzes, mente aberta, sapatos para dançar e muita energia.

Esqueçam tudo o que sabem sobre festas de garagem. A Underground Party do Conrad Algarve é uma realidade sem par. Nas paredes é a street art dos artistas convidados a ocupar o espaço que primeiro chama a atenção. Entre carros antigos, vejo José Avillez a empratar cuidadosamente um dos seus snacks da noite. Amores perfeitos, salva e alecrim, um cenário onde pequenas pedras cinzentas servem de suporte ao que me parecem ovas. Não faço ideia como comer, nem o quê. O meu ar perdido diverte o chef que me aconselha a pegar na pedra e comer tudo. A explosão de sabor faz-me entrar no mar e (re)viver um turbilhão de memórias. Rio-me e pergunto se posso repetir. Sem esperar pela resposta como a segunda pedra e partilho um olhar cúmplice. Se o resto da noite for assim, vai ser tão emocionante como andar numa montanha russa.

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Pedras de fígado de bacalhau - José Avillez // Ostra com abóbora, sabores asiáticos, lima kaffir, citronela e especiarias - Jacob-Jan Boerma

Ainda a pensar nas pedras, encontro Jacob-Jan Boerma também ocupado com o seu snack. Ostra e abóbora, explica, são os seus ingredientes de eleição para esta noite. Estranha combinação, penso eu. E mais uma vez no intervalo de poucos minutos um chef me lê o pensamento: asian flavours will bring it together, you'll see, diz o chef holandês no seu inglês impecável estendendo-me uma taça. E, claro, tinha razão. A combinação perfeita de ácido, doce, amargo, salgado faz da abóbora o complemento certo para a ostra. Não será a minha primeira escolha para comer ostras (gosto delas ao natural) mas é um prato muito curioso.

Sigo para a bancada onde Sidney Schutte finaliza pequenos círculos dispostos sobre bonitos troncos. O chef do Librije's Zusje recheia dois crocantes de pele de galinha com uma mousse de fígado, bacon e passas e segura o tronco para que eu possa retirar um. Delicado à vista e muito saboroso na boca, é simplesmente delicioso. Desta vez não repito porque é tempo de passar à "sala de jantar" para onde se muda a boa disposição dos escanções de serviço, convidados por António Lopes, o anfitrião escanção do Gusto. Sigo as suas coloridas camisas e preparo-me para mais desafios.

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Heinz Beck, Jacob-Jan Boerma, Kevin Fehling



Por ser contagiosa, a alegria estende-se para a "cozinha" e os chefs fazem também a festa. A seriedade volta assim se põe em marcha o empratamento da entrada que Kevin Fehling trouxe a esta Underground Extravaganza. A cozinha do chef alemão surge muito marcada pelas recentes viagens à Guatemala e o Carabineiro com tamarillo, abacate, salsa & taco é uma homenagem cheia de cor e com diferentes sabores no prato. Talvez por ter sido servido com o vinho verde da noite, escolhido por Carlos Monteiro, o Soalheiro Primeiras Vinhas 2015 é a memória vivida que guardo desta harmonização, pela irreverância e elegância.

Em seguida, Heinz Beck traz um prato herdeiro das suas influências italianas. Os tortellini verdes recheados com pappa al pomodoro e marisco vieram acompanahdos de um Costa SW, 2014, mais uma escolha bem sucedida do escanção Sérgio Antunes. Já com a conversa a tomar conta da mesa e o estomâgo a pedir algum descanso, eis que é a vez de José Avillez apresentar o seu Xerém com amêijoas, finalizado com as já famosas azeitonas explosivas. Tudo no prato sabe a casa e às memórias do Algarve e o vinho Remexido Branco, trazido por Bruno Antunes foi para mim a harmonização da noite. Sem unanimidade, a escolha do escanção ajudou à discussão em torno dos brancos velhos e de como apreciá-los (ou não). Do prato, apenas a vontade que a dose pudesse ter sido menos generosa. É que por esta altura já a cozinha está em ebulição com o prato seguinte...

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Pombo com raiz de aipo, avelã, agridoce de beterraba com cogumelos e gel de chalota de Jacob-Jan Boerma. Talvez o prato mais bonito da noite e uma combinação de sabores a desafiar as percepções convencionais. Aquele puré de aipo e avelã, com a beterraba, há-de fazer parte dos meus sonhos por muito tempo. Com a devida vénia ao António Lopes, que adivinhou que um Touriga Nacional era o que me apetecia naquele momento, e um brinde (com e) ao excelente Quinta do Noval, 2009.

O convite para deixar a mesa e procurar a sobremesa é bem-vindo. Lá vamos ao som da música em busca dos doces. Da responsabilidade de Eddie Beghanem, o que encontramos não é menos que um céu par os gulosos. Visualmente fantásticas, as propostas doces do chef do Trianon Palace deixam-me a braços com a velha máxima de ter mais olhos que barriga. Provei um bom gelado de três chocolates e o mais bonito dos chouxs, de café, chocolate e frutos vermelhos enquanto António Lopes abria o Quinta do Noval Vintage, 2003, num aparato de fogo e luz. A festa, essa, prometia continuar pela noite dentro na pista de dança. O final de uma noite inesquecível é multisensorial e eu oiço a minha cama a chamar por mim.

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